sexta-feira, 20 de abril de 2007

Idéias na cabeça e um chicote nas mãos

Esse é meu...uhauhuhauauhaua
Na última segunda-feira eu sofri uma overdose de remorsos; pois é, eu assistia ao filme “Olga” e entrei numa confusão de questionamentos, pensando em frases soltas até que resolvi me sentar e escrever este artigo.
A história nos conta que Getúlio Vargas entregou Olga Prestes (que era alemã), grávida, aos nazistas como forma de negociação política. No fim, Getúlio acabou trazendo para o nosso país uma empresa siderúrgica e é até hoje admirado por sua habilidade como articulador. Mas calma aí, quer dizer que um dos políticos mais venerados do meu país entregou uma mulher grávida ao ditador mais sanguinário do século XX?!
Ao imaginar isso eu começo a ter remorsos de, por um momento de minha vida, ter admirado alguém cruel desta forma. No fim do filme fiquei muito atraído pelo belo, romântico, porém utópico Comunismo; mas esse não é o mesmo Comunismo que fuzila, tortura e proíbe? Então pra quem eu iria torcer? Quem era o bem e quem era o mal? Afinal não é assim nos filmes? A minha conclusão foi que o vilão não é muçulmano, cristão ou budista. O vilão não é comunista, militar, democrata ou republicano. O vilão sou eu, você, enfim nós humanos. A única coisa que une Bushes a homens-bomba, militares a comunistas, pagãos a inquisidores é o fato de que todos são seres humanos e passíveis de não resistir à tentação do poder. É comum ver os grandes senhores da ideologia sucumbirem à tentação de mandar. É só ver o nome de alguns ditadores: Fidel, Stálin, Chavez (quase um ditador), Vargas e por aí vai, todos começaram com uma idéia na cabeça e terminaram com um chicote nas mãos.
Ao pensar em bem e mal pense no seu país, ele é o bem ou o mal? Vamos então fazer este joguinho: Um país que ama um homem que trocou a vida por uma indústria é bom ou mal? Será que este país pode chamar qualquer W. Bush de ditador cruel? Um país que divide seus votos entre mensaleiros e oportunistas é bom ou mal? Será que ele pode chamar algum muçulmano de bitolado? Não meus amigos, nós não podemos falar nada.
Vamos então falar mal dos Estados Unidos enquanto comemos um McDonalds e bebemos uma Coca-cola. Vamos ter a pervertida ignorância de dizer que muçulmanos se matam em busca de algumas virgens, quando na realidade não temos idéia de como se sente uma pessoa que vê o próprio país sendo destruído, que vê a casa atingida por um foguete errante e acerta em cheio sua dignidade.
A verdade é que somos todos, crianças grandes que precisamos acreditar no bem, precisamos eleger heróis e vilões, precisamos torcer por um dos times. Não existe céu nem inferno, apenas essa nave louca chamada terra. Existem atitudes, certas, erradas e necessárias, existem valores e força de vontade. Existimos você, eu e o mundo.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Saudade

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. V ocê podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio. Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. Não saber se ela ainda usa aquela saia. Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada; se ele tem assistido as aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial; se ela aprendeu a estacionar entre dois carros; se ele continua preferindo Malzebier; se ela continua preferindo suco; se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados; se ela continua dançando da quele jeitinho enlouquecedor; se ele continua cantando tão bem; se ela continua detestando o MC Donalds; se ele continua amando; se ela continua a chorar até nas comédias. Saudade é não saber mesmo! Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos; Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento; Não saber como frear as lágrimas diante de uma música; Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer. É não querer saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer. Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler... (Miguel Falabella)